Um novo fenômeno digital vem chamando atenção nas redes sociais e causando preocupação entre pais, educadores e psicólogos infantis: são as criaturas infantis geradas por inteligência artificial, figuras bizarras, coloridas e aparentemente inofensivas, mas que escondem um conteúdo com potencialmente efeitos psicológicos nocivos às crianças. O movimento faz parte de uma tendência maior conhecida como “brainrot italiano”, expressão que merece destaque por ser o núcleo de toda essa febre visual nonsense.
O que é o “brainrot italiano”?
O termo “brainrot italiano” se refere a uma onda de vídeos absurdos, com personagens criados por IA, cenários surreais e narrações em um falso italiano. A palavra “brainrot” (literalmente “apodrecimento cerebral”) foi eleita a Palavra do Ano de 2024 pelo Dicionário Oxford, por representar o consumo desenfreado de conteúdo digital repetitivo e vazio. Nesse caso, o brainrot italiano mistura esse tipo de estímulo com humor visual nonsense, personagens deformados e vídeos que se espalham como febre no TikTok e Instagram, especialmente entre o público infantil.
Esses conteúdos são visualmente exagerados e sonoramente repetitivos. Eles não seguem lógica ou enredo, o que, para os adultos, soa como humor surreal ou satírico, mas para crianças pode ser simplesmente confuso, assustador ou até viciante.
👾 As criaturas mais famosas do fenômeno — e seus lados sombrios
Dentro do universo visual caótico do brainrot italiano, algumas figuras se destacaram por sua aparência bizarra, repetição em vídeos virais e forte impacto emocional nas crianças. Abaixo, listamos as principais criaturas e os aspectos ocultos ou perturbadores por trás de suas aparências coloridas:
🦈 Tralalero Tralala
Descrição: Um tubarão azul com três pernas humanas calçando tênis da Nike, e um trompete saindo do topo da cabeça.
Lado sombrio: Apesar do visual “cool”, sua movimentação frenética e olhar vazio remetem a um estado de confusão mental. Representaria a perda de identidade e a substituição de traços humanos por elementos absurdos. O som repetitivo que o acompanha pode provocar agitação em crianças pequenas.
🐊 Bombardino Crocodilo
Descrição: Uma fusão de avião bombardeiro com um crocodilo de dentes enormes e corpo metálico.
Lado sombrio: Remete à guerra e à destruição, com uma estética que mistura violência e animalidade. Representa o colapso entre natureza e tecnologia — um monstro de força bruta e caos. Alguns interpretam como símbolo do medo infantil de coisas que fazem barulho e não podem ser controladas.
🦐🐱 Tripi Tropi
Descrição: Um cruzamento entre camarão e gato, com olhos grandes, postura hesitante e feições desconexas.
Lado sombrio: A fusão de espécies incompatíveis gera desconforto. Representaria a perda de referência e o corpo desorganizado, algo que pode assustar crianças em idade de formação da própria identidade.
🌵🐘 Lirili Larila
Descrição: Uma criatura híbrida de cacto e elefante, calçando sandálias, com feição sorridente e olhos fixos.
Lado sombrio: A contradição entre a fofura e os espinhos do cacto representa perigo disfarçado de carinho. A aparência dócil engana, enquanto a rigidez corporal e os olhos fixos causam desconforto sutil.
🩰☕ Ballerina Cappuccina
Descrição: Uma bailarina graciosa com uma xícara de cappuccino no lugar da cabeça.
Lado sombrio: Representa a objetificação e a distorção da figura feminina infantil, com um toque surrealista. A cabeça substituída pode simbolizar a ausência de pensamento ou consciência — como uma boneca animada sem controle.
🪵🏏 Tung Tung Tung Sahur
Descrição: Um boneco de madeira que segura um taco de beisebol, dançando ao som de batidas fortes.
Lado sombrio: Lembra marionetes e brinquedos animados, associados a traumas de controle e punição. O objeto em mãos sugere agressividade contida ou ameaça disfarçada em festa.
🌳👃 Brr Brr Patapim
Descrição: Uma árvore com braços humanos, pés grandes e um nariz desproporcionalmente grande.
Lado sombrio: Mistura natureza viva com feições humanas de forma grotesca. O nariz exagerado remete a caricaturas zombeteiras. Pode despertar medo por sua aparência ambígua: é planta, é gente — é algo que não deveria se mover, mas se move.
🐫🧊 Frigo Camelo
Descrição: Um camelo com corpo de geladeira, portas que se abrem e botas descomunais nos pés.
Lado sombrio: O contraste entre o quente (camelo/deserto) e o frio (geladeira) representa confusão térmica, física e emocional. É um ser que não faz sentido, que desafia a lógica — exatamente como um pesadelo recorrente.
Descrição: Figura encapuzada ou mascarada, com aparência de gangster, sem forma claramente definida.
Lado sombrio: Representa o medo do desconhecido, da violência urbana e da figura de autoridade corrompida. A ausência de rosto claro ou forma física específica gera ansiedade e ameaça.
🛖✈️ Bombini Guzini
Descrição: Uma oca de palha com asas de caça aéreo, flutuando ou atacando no céu.
Lado sombrio: A fusão de cultura indígena com armamento bélico gera desconforto e críticas culturais. Simboliza o choque entre tradição e modernidade imposta, como se um lar fosse transformado em arma — uma ideia perturbadora mesmo para adultos.
Essas criaturas, apesar de parecerem absurdas ou engraçadas à primeira vista, carregam em seus traços elementos do grotesco, do surreal e do emocionalmente inquietante, que podem causar confusão, medo ou fascínio hipnótico nas crianças — o que torna ainda mais importante a supervisão parental e a curadoria de conteúdo nas redes.
Esses nomes estranhos fazem parte da estética propositalmente caótica do brainrot italiano — geralmente acompanhados por falas repetitivas em vozes automatizadas, trilhas ruidosas e um italiano que muitas vezes não faz sentido algum.
O impacto nas crianças: preocupação real ou histeria digital?
Apesar de muita gente encarar os vídeos como simples memes ou piadas surreais, psicólogos alertam que o conteúdo pode não ser apropriado para o público infantil. Algumas crianças relatam medo das criaturas, insônia ou irritabilidade após o contato com esses vídeos.
Segundo especialistas, a falta de estrutura narrativa, os sons exagerados e os visuais intensos podem sobrecarregar o cérebro infantil, especialmente nas idades de maior desenvolvimento cognitivo (até os 7 anos). A estética “nonsense” que diverte adolescentes e adultos pode ser perturbadora para crianças menores.
Fake news ou risco real?
Até o momento, não há estudos científicos consolidados que afirmem danos comprovados causados por essas criaturas. No entanto, o alerta é válido, especialmente porque os vídeos são encontrados em plataformas como TikTok e YouTube Shorts, que não têm filtro de faixa etária totalmente eficaz.
Não se trata de pânico moral, mas de atenção ao conteúdo consumido. Muitos pais se surpreendem ao ver que um vídeo aparentemente fofo pode conter elementos que geram desconforto ou medo nas crianças.
Como proteger seu filho?
- Supervisione o uso de telas: saiba o que seu filho está assistindo e em que plataformas.
- Evite exposição a vídeos com excesso de estímulos visuais e sonoros, principalmente se a criança apresentar sinais de estresse, agitação ou medo após assisti-los.
- Converse sobre o que ela está vendo: muitas vezes, a criança não entende o que a incomodou até que isso seja verbalizado.
- Ative controles parentais nas plataformas e evite deixar o algoritmo escolher o que seu filho vê.
Conclusão
O brainrot italiano é mais do que um meme bizarro — é um retrato do tipo de conteúdo que a IA consegue produzir e que, quando não monitorado, pode alcançar públicos vulneráveis como o infantil. As criaturas coloridas e engraçadas escondem, em muitos casos, um conteúdo que mistura o absurdo com o grotesco, e que pode causar reações inesperadas nas crianças.
Ficar atento a essas tendências é essencial para quem deseja garantir que a infância digital continue sendo um espaço seguro, criativo e saudável.ção das crianças.
