Poucos jogos conseguem despertar tanto amor e ódio ao mesmo tempo quanto o eFootball, título da Konami que substituiu o clássico PES e hoje se consolidou como uma das principais opções para quem busca futebol virtual. Apesar da comunidade fiel e apaixonada, relatos cada vez mais frequentes revelam um cenário de frustração, sensação de manipulação e críticas ao modelo de monetização adotado pela desenvolvedora.
O jogo que parece jogar sozinho

Um dos desabafos mais compartilhados recentemente veio de um jogador que contou como vencia por 3 a 0 no primeiro tempo, dominando completamente a partida. Mas, de repente, tudo mudou. “No segundo tempo parecia sacanagem, o adversário saía tocando de primeira, a bola passava embaixo do meu jogador como se ele não existisse. No fim, tomei a virada e desliguei o PC para não socar a tela”, relatou.
Esse tipo de situação é constantemente chamado pelos fãs de “handicap”, uma suposta mecânica invisível que equaliza partidas e deixa a sensação de que o jogo manipula resultados. Para muitos, não se trata de perder por falta de habilidade, mas por uma força oculta que decide quem vai vencer.
Dinheiro investido, frustração mantida
Entre os jogadores mais engajados, a queixa é clara: por mais que se invista tempo ou dinheiro, nem sempre isso se traduz em vantagem dentro de campo. “O tanto que já gastei nesse jogo e não adiantou nada não tá escrito”, afirmou Ari Novaes, veterano da comunidade.
Outros jogadores relatam que já chegaram a abrir mão de gastos pessoais para investir no game, comprando moedas para montar times competitivos. “Meu time tem força coletiva alta, já deixei de comprar roupa e até coisas que precisava para investir no eFootball. Não me arrependo, porque a comunidade é como uma família, mas é viciante”, contou Marcos dos Santos.
Esse aspecto revela o quanto o modelo de negócios da Konami é agressivo, estimulando os usuários a investirem em moedas e pacotes de jogadores de forma semelhante a um sistema de apostas. Para alguns, o eFootball deixou de ser sobre habilidade e se tornou sobre sorte.
Um vício que pode afetar a saúde
Outro ponto levantado por jogadores é o impacto na saúde mental e física. A frustração constante, somada à competitividade e ao vício nas recompensas digitais, afeta não apenas o humor, mas também o corpo. “Afeta visão, mexe com o cérebro, dá dor de cabeça. Quem joga e perde muito sabe que isso é verdade, mas continua porque o jogo é viciante”, explicou Marcos em outro relato.
Essa crítica não é isolada. Psicólogos já destacaram que a mecânica de recompensas aleatórias em jogos como o eFootball pode gerar efeitos semelhantes aos de jogos de azar, prendendo o usuário em ciclos de frustração e expectativa pela próxima chance de ganhar.
Entre nostalgia e resignação
Mesmo com tantas críticas, muitos jogadores continuam fiéis. Alguns encontram prazer em vencer adversários considerados “favoritos” com elencos modestos. Outros se refugiam em partidas contra a inteligência artificial para manter o jogo apenas como um passatempo.
“Meu time é fraco, o melhor que tenho é o Drogba, mas gosto de ganhar de quem se acha profissional. A sensação é de herói”, comentou Gesiel Alves.
Já outros, mais desiludidos, simplesmente abandonaram o título. “Faz igual eu: para de jogar”, aconselhou Jheimyson.
O ponto de vista
O eFootball se tornou um espelho da própria indústria de games: viciante, competitivo, mas também controverso em suas práticas. O que era para ser apenas uma experiência de futebol virtual hoje carrega a imagem de um sistema que, muitas vezes, parece mais preocupado em vender pacotes digitais do que em entregar partidas justas.
Para a Konami, o desafio não está apenas em corrigir bugs ou melhorar gráficos, mas em reconquistar a confiança da comunidade. Os relatos mostram que os jogadores não reclamam simplesmente por perder, mas por sentir que o jogo deixou de ser justo.
Enquanto isso, a paixão pelo futebol continua sendo o combustível que mantém milhões conectados ao eFootball. Resta saber até quando esses jogadores vão permanecer nesse mercado da bola virtuail, antes de abandonar de vez as partidas na telinha, que cada vez mais, parece decididas fora das quatro linhas.